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quinta-feira, 16 de junho de 2011

O QUE É MITO ?

O LABIRINTO DOS MITOS
O mito é uma narrativa, um discurso, uma fala e uma forma de as sociedades espelharem suas contradições, exprimirem seus paradoxos, dúvidas e inquietações. Pode ser visto como uma possibilidade de se refletir sobre a existência, o cosmos, as situações de "estar no mundo" ou as relações sociais. Mas, o mito é também um fenômeno de difícil definição. Por trás dessa palavra pode estar contida toda uma constelação, uma gama versificada de idéias. O mito faz parte daquele conjunto de fenômenos cujo sentido é difuso, pouco nítido múltiplo. Serve para significar muitas coisas, representar várias idéias, ser usado em diversos contextos. Qualquer um pode, sem cerimônia, utilizar a palavra para designar desde o "mito" de Édipo ao "mito" Michael Jackson, passando pelo "mito" da mulher amada ou da eterna juventude. O que marca o ser humano é justamente sua particularidade de possuir e organizar símbolos que se tornam linguagens articuladas, aptas a produzir qualquer tipo de narrativa. O ser humano fala e muito. Se o mito fosse uma narrativa ou uma fala qualquer, estaria diluído completamente. O mito é, então, uma narrativa especial, particular, capaz de ser distinguida das demais narrativas humanas. Pensando nisso podemos analisar algumas definições correntes do mito que ajudem a avançar com o quebra-cabeças. O mito teria uma forma alegórica que "deixa entrever um fato natural, histórico ou filosófico". Isto parece muito interessante. A partir dessa ideia podemos pensar que o mito carrega consigo uma mensagem que não está dita diretamente. Uma mensagem cifrada. O mito esconde alguma coisa. O que ele procura dizer não é explicitado literalmente. Não "está na cara". O mito não é "objetivo". Tipo pão, pão, queijo, queijo. Está localizado num tempo muito antigo, "fabuloso". Nos tempos da "aurora" do homem; ou, pelo menos, os homens o colocam nos seus tempos da "aurora" fora da história; o mito não fala diretamente, ele esconde alguma coisa.Guarda uma mensagem cifrada. O mito precisa ser interpretado. Quando surgem os mitos? Quando aconteceram os fatos sobre os quais eles falam? Estas questões foram o pretexto para várias polêmicas, análises e estudos. Elas compõem o extenso quadro das questões da origem. A origem do universo, e origem da Terra, a origem da vida, a origem do homem, a origem das línguas. A temática das origens das coisas sempre foi uma preocupação de muita gente. Conseqüentemente, a origem do mito não poderia estar ausente desta constante divagação sobre as origens de tudo.



segunda-feira, 13 de junho de 2011

Formas-de-governo: Filosofia e Política na antiguidade

Platão: lei e degeneração da lei
Protágoras: em defesa da democracia
Aristóteles: interesse comum x interesse privado
Políbio: regime misto.

Segundo Platão cada estrato da sociedade tem uma inserção diferente na Pólis, e o ápice da educação na cidade,é a educação dos guardiões-filósofos e do rei-filósofo.
Segundo Aristóteles, o governante deve agir mais segundo a prudência do que segundo a razão, precisa agir na urgência e decidir na incerteza.

1. Formas-de-governo: Filosofia e Política na antiguidade
1.1. Os primórdios
A figura de Sócrates (469 a.c.-399 a.c.) é emblemática para a história da filosofia e, sobretudo, para o que costumamos chamar de filosofia política. Com ele, a Filosofia começará a refletir sobre o que podemos chamar de ‘poder do poder’, ou seja, sobre o poder da verdade que é verdadeira e da verdade que é aparência. A primeira exposição sistemática acerca das formas de governo foi apresentada pelo historiador Heródoto (485 a.C.-420 a.C.) . Em sua obra, História (livro VIII, 79-81), ele narra a conversa entre três persas, Otanes, Megabises e Dario, que após a queda do tirano Cambises, discutiam a fim de decidir a melhor maneira de reorganizar a Pérsia após a tirania. Cada um dos três defende uma forma de governo diferente e critica outra, apresenta argumentos favoráveis a uma ou outra.

• Otanes afirma que a monarquia, devido à riqueza e inveja do monarca, degenera sempre em tirania, e pelo mesmo motivo a disputa entre os que postulam a riqueza e o poder político, então o melhor é entregar o poder ao povo e constituir uma democracia.

• Megabises, o segundo a falar, concorda com a crítica da monarquia mas tem ressalvas quanto à democracia, pois a massa é inepta e desatinada, trocar a prepotência de um tirano pela prepotência da turba implica no mesmo resultado. Defende então a aristocracia, o poder entregue àqueles escolhidos como os melhores homens da Pérsia.

• Dario, por sua vez, afirmou que, em seu estado perfeito, todas as três formas de governo são boas, mas entre elas a monarquia é a melhor quando ocupada pelo melhor homem, pois numa oligarquia surgem conflitos entre os que querem ser chefes, e numa democracia ocorre corrupção nos negócios públicos. Podemos notar que encontramos a classificação das formas-de-governo e um julgamento de cada uma. Uma questão é quantos governam e outra é como governa. Há assim uma descrição de cada forma e em seguida o elogio de uma delas. Esta conversa inaugura o modelo teórico que a antiguidade grega adotou na reflexão acerca das formas de governo.

1.2. Platão: lei e degeneração da lei

Platão (428 a.C.-327 a.C.) discute as formas de governo no diálogo intitulado República. Neste diálogo, as personagens discutem acerca do conceito de justiça. Inicialmente o diálogo trata de refutar algumas teses apresentadas acerca da natureza da justiça. Em seguida pesquisa a noção de Cidade Justa. Trata-se de encontrar a Calipolis, a cidade ideal, a “cidade das palavras”, aquela que é totalmente descrita por meio do planejamento e da reflexão, em que todos os problemas são cuidadosamente pensados e excluídos. Na sua tipologia, a Cidade ideal é a monarquia governada pelo mais sábio entre os sábios, o filósofo-rei, que recebe a melhor e mais completa educação, e que ouve atentamente os outros filósofos. Contudo esta Calipolis é uma Polis ideal, um “lugar no céu” (topos uranos, em grego), as Polis reais são todas sombras projetadas pela Polis ideal do mundo inteligível, não passam de degenerações no mundo da sensibilidade. Assim, todas as formas-de-governo são más, exceto a monarquia ou a aristocracia de sábios. Platão elabora então uma lista de razões pelas quais a Calipolis monárquico-aristocrática se degenera. Inicialmente surge a timocracia, ou seja, uma falsa aristocracia em que não são os melhores que governam, mas os que têm timé, honra, os que têm a reputação e a fama, os que parecem melhores. Estabelece-se uma distinção entre SER e PARECER, o que parece pode ser, mas não é necessariamente. Os que parecem melhores, mas não são, usarão o poder para acumular riquezas e honrarias, e não para o bem comum. Assim, pouco a pouco a timocracia se degenera em oligarquia, quando o poder está com os ricos. Os ricos governam e se entregam às mais diversas dissipações. Com isso, alguns ricos se esbaldam e empobrecem. Uma vez empobrecidos e inconformados com sua situação, insuflam os pobres contra os ricos. Com os distúrbios, a oligarquia degenera em democracia, onde os pobres, ou a maioria governa. Quando a maioria governa, a tendência é a licenciosidade, cada um faz o que quer e não se preocupa com as leis, caímos numa anarquia em que todos governam para ninguém e, na confusão, alguém impõe pela força a ordem política, surge a tirania, a pior das formas de governo. O tirano domina pela força e violência, ninguém tem nenhuma segurança porque o tirano é sempre ameaçador e governa pelo medo. Então é a honra, a timé, que nos servirá para designar os melhores. A degeneração desta é a oligarquia dos ricos, em que o que conta são os bens materiais e não a capacidade. Esta se transforma na boa democracia, onde todo o povo faz a lei da Polis, um elemento de equilíbrio pelo pensamento, pela reflexão, a lei. Em seguida, a degeneração em licença e anarquia, a má democracia, quando a lei não vale mais nada e que suscita o que há de pior na Polis: a tirania, o descontrole da violência e da força dos poderosos. Podemos deduzir então que a reflexão e o pensamento presente na Polis por meio da lei nos permite discriminar boas e más formas de governo: timocracia e democracia que têm a lei como referência de um lado, e oligarquia, anarquia e tirania de outro, em que a riqueza, a licenciosidade da plebe e a violência do chefe são as piores. Assim, a (boa) democracia é o pior regime entre os melhores, e a (má) democracia ou anarquia é o melhor regime entre os piores. Podemos observar a rejeição de Platão pela democracia, especialmente a democracia ateniense. Na democracia antiga, todos os cidadãos livres tinham direito a voz e a voto na , os cargos públicos (taxis ton archon) eram distribuídos por sorteio. Segundo Platão, o bem falar é melhor sucedido do que o bem pensar, a retórica é mais importante que a filosofia, o parecer mais considerado do que o ser. O exemplo que dá no diálogo Górgias, sobre o sofista Górgias (485 a.C.-380 a.C.), é que um canastrão que se apresente como médico sem entender nada de medicina mas conhecedor das regras de persuasão pode convencer o doente a fazer um tratamento, ao passo que um médico capaz e bem preparado que desconhece a retórica não conseguirá convencer o doente a seguir o tratamento. A discussão é interessante: quem é dono da verdade? O filósofo que pensa bem mas não sabe convencer, ou o orador que não sabe pensar mas convence bem?

1.3. Protágoras: em defesa da democracia
Sócrates e Platão eram opositores dos sofistas, pois a filosofia deve se preocupar com a verdade e os sofistas eram mais pragmáticos. Foram os primeiros professores a vender seus saberes, a trocá-los por dinheiro. O saber é um poder que pode beneficiar aquele que sabe. Enquanto Platão defendia a existência da verdade absoluta que estava para além de toda mera aparência, os sofistas defendiam uma postura relativista com relação à verdade. De acordo com esses pensadores, dos quais Protágoras (480 a.C.-410 a.C.) e Gorgias foram os mais expressivos, o poder de persuasão e a força retórica se sobressaem à busca da verdade mesma. O importante, em última análise, não é dizer o verdadeiro, mas levar a melhor no debate, o que é fundamental para o exercício do poder no regime democrático. Protágoras é um dos poucos sofistas que merece o respeito de Platão, que escreveu um diálogo para analisar suas ideias. Protágoras é famoso defensor da democracia e ensinava seus alunos a bem falar e a bem manifestar-se na Assembleia. Considerava que os homens compartilham a razão com os deuses, por isso a discussão aberta dos recursos e problemas conduz sempre à melhor solução. Acreditava que, como diz o mito de Epimeteu e Prometeu sobre a criação dos animais e a distribuição de propriedades (conforme Protágoras, 320-323d.C), todos os homens recebem o “fogo” da razão, ou seja, todos os homens têm a mesma capacidade de pensar, todos podem igualmente compreender as dificuldades e os problemas da Polis e se posicionar adequadamente. Nesse sentido, “o homem é a medida de todas as coisas”, ou seja, cada Polis fornece ao homem suas medidas de pensamento e reflexão. Aristóteles (384 a.C.-322 a.C.) realiza uma análise completa e cuidadosa das formas-de-governo no livro III da Política. Quando um só, poucos ou muitos exercem o poder buscando o interesse comum, temos necessariamente as constituições retas, quando exercem no seu interesse privado, temos os desvios” (1279a). Vejamos então a classificação que ele apresenta. O governo de uma pessoa cujo objetivo é o interesse comum é a monarquia; O governo do maior número, Aristóteles chama simplesmente de "politeia”quando o governo é de poucas pessoas, chamamos de aristocracia. . O desvio da monarquia é a tirania, pois o tirano não governa pelo interesse comum, mas por seu próprio interesse. O desvio da aristocracia é a oligarquia, que é o governo no interesse dos ricos. O desvio da “politeia” Aristóteles chama de “democracia”, ou oclocracia, que é o governo no interesse dos pobres. Posteriormente, estudiosos de Aristóteles associaram democracia à forma boa e mantiveram o nome de oclocracia para a forma corrompida. Em seguida, Aristóteles reflete sobre o princípio de justiça de cada uma destas forma-de-governo, ou seja, como a polis se relaciona com a igualdade e com a desigualdade, a saber, homens e mulheres, cidadãos e escravos, ricos e pobres, estrangeiros, etc. Quais deles e como podem ter uma relação ativa e participante nos assuntos públicos. A Polis precisa contribuir para a felicidade de cada um (eudaimonia) e da mesma forma cada um se dedica aos problemas da Polis, à política. Assim, só os homens livres que se dedicam à política podem ser felizes, mas somente enquanto a política visa o bem comum. Caso defendam interesses particulares, essas pessoas não podem ser felizes, digamos que sejam degeneradas, pois desviam ou corrompem as boas formas-de-governo. Compreendemos então porque Aristóteles usa a palavra “politeia” para o governo da maioria, pois é o governo de pessoas honestas e felizes em função do interesse comum. Por outro lado, quando o governo da maioria é dos pobres (ou da turba, demo em grego), a preocupação maior não é a felicidade ou o interesse comum, mas ocorre a degeneração causada pela carência. Quando “demo” foi associado a todo o povo, democracia foi usada para designar a defesa do interesse comum, e oclocracia para sua ausência ou corrupção.
Observemos ainda que o sentido antigo da palavra “democracia” é diferente do sentido que damos hoje. Na antiguidade grega, tratava-se da democracia direta, todo cidadão tinha direito de voz e voto na Assembleia. Hoje, vigora a democracia representativa, os deputados e governadores que elegemos tomam decisões em nosso nome. Em seguida, Aristóteles reflete sobre o princípio de justiça de cada uma destas forma-de-governo, ou seja, como a polis se relaciona com a igualdade e com a desigualdade, a saber, homens e mulheres, cidadãos e escravos, ricos e pobres, estrangeiros, etc. Quais deles e como podem ter uma relação ativa e participante nos assuntos públicos. A Polis precisa contribuir para a felicidade de cada um (eudaimonia) e da mesma forma cada um se dedica aos problemas da Polis, à política. Assim, só os homens livres que se dedicam à política podem ser felizes, mas somente enquanto a política visa o bem comum. Caso defendam interesses particulares, essas pessoas não podem ser felizes, digamos que sejam degeneradas, pois desviam ou corrompem as boas formas-de-governo. Compreendemos então porque Aristóteles usa a palavra “politeia” para o governo da maioria, pois é o governo de pessoas honestas e felizes em função do interesse comum. Por outro lado, quando o governo da maioria é dos pobres (ou da turba, demo em grego), a preocupação maior não é a felicidade ou o interesse comum, mas ocorre a degeneração causada pela carência. Quando “demo” foi associado a todo o povo, democracia foi usada para designar a defesa do interesse comum, e oclocracia para sua ausência ou corrupção.
Na Filosofia Política Moderna, o poder político deixa de ser pensado pelas formas-de-governo e passa a ser pensado por meio das instituições (institutio, em latim).
autor: Ricardo Monteagudo
Volumes: Pré-Socráticos. Sócrates. Platão. Aristóteles. Cícero/Epicuro/Lucrécio/Sêneca, São Paulo, Abril, 1973-1978. (Os Pensadores).
Sugestão de Filmes
1. SPARTACUS. Direção: Stanley Kubrick. Produção: Kirk Douglas. Intérpretes: Kirk Douglas; Laurence Olivier e outros. [EUA: s.n.], 1960.
2. HELENA de Troia, paixão e guerra. Direção: John Kent Harrison. [EUA;Grécia: s.n.], 2003.
3. SÓCRATES. Direção: Roberto Rossellini. [Itália, 1971].

domingo, 12 de junho de 2011

FILOSOFIA POLÍTICA



As formas-de-governo definidas na Antiguidade podem ajudar a pensar a globalização liberal e a democracia representativa contemporânea.
As formas de governo da Antiguidade: Monarquia (governo de um), Aristocracia ( governo de poucos) e Democracia (governo de todos), nos remete à reflexão sobre o principal papel do poder nos dias atuais e como deve ser a aplicação e a distribuição desse poder no mundo globalizado e dominado pela influência imperialista, que é exercida pelos governantes das grandes potências mundiais. Nas atuais democracias liberais, a política foi transformada em disputa de interesses particulares de grandes grupos financeiros, que através da lógica financeira e da economia planejada, constroem valores políticos que são assimilados pela grande massa da população, que é subjugada por uma ideologia massificadora. A história muda, mas, a dominação continua através da ideologia cada vez mais forte, com meios de comunicação que nos deixam desconectados e desinteressados, nos controlando continuamente. O poder que se estabelece hoje, é o poder da vigilância, ou seja, a microfísica do poder, como afirmava Michel Foucault (vigiar e punir) que faz com que o Estado se torne presente em todo espaço ocupado pelo indivíduo.
Na Antiguidade, a ideia de que os melhores deveriam ocupar o poder, nos remete as indagações: Mas quem eram esses melhores? Os mais ricos? Os mais sábios? Os mais honrados? Será que apenas estes seriam capazes de compreender e conduzir os negócios públicos, buscando o bem comum e a submissão de todos à lei, tornando a sociedade mais justa e mantendo a paz e a felicidade de todos? Os conceitos sobre a política mudaram no decorrer da história, mas o objetivo continua o mesmo; o de tornar a cidade mais feliz e mais justa, propiciando a paz e a harmonia entre os cidadãos. O conceito de cidadão hoje tem uma dimensão maior, pois com a globalização não somos apenas cidadãos da Pólis, mas sim cidadãos do mundo. As nossas preocupações a respeito da paz não são mais preocupações com a paz apenas da nossa cidade, mas sim, com a paz mundial. A nossa economia depende da economia mundial, enfim somos "cidadãos planetários". A política hoje é internacional e nossas relações como cidadãos do mundo são também internacionais. Enfim, os conceitos de formas de governo da Antiguidade serviram como moldes para a política atual, devemos extrair as qualidades de cada forma de governo da Antiguidade para transformar o meio em que vivemos. Devemos nos inspirar nos ensinamentos de Sócrates, reconhecendo os políticos através do compromisso com a verdade e não com as aparências, nos ensinamentos de Anaximandro que trata da corrupção, de Platão que fala sobre a cidade ideal e esta cidade degenerada.É importante saber distinguir o que é interesse comum e que é interesse particular. A politica ideal é aquela em que o ser precede o parecer, a verdade está além das aparências.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Proposta Curricular do Estado de São Paulo para Filosofia

Proposta Curricular do Estado de São Paulo
para a disciplina de Filosofia
Filosofia e Cultura
No senso comum, filosofar é tirar os pés    
do chão e ficar em devaneios em cima das
nuvens. Essa imagem do pensador com olhar
e mente distantes, flutuando sobre os mortais,
foi criada com a ajuda dos próprios filósofos
e professores de Filosofia, durante anos especializados numa espécie de trava-línguas do
pensamento e alheios às demais manifestações
e dimensões da Cultura. Por isso, considerando que o ensino de Filosofia no nível médio foi
restabelecido de forma legal, parece interessante perguntar como o professor de Filosofia
vê sua presença no universo escolar. Qual o
papel, ou papéis, que ele pode e deve desempenhar? Qual a função do ensino de Filosofia nos atuais formatos curriculares, assentados especialmente no desenvolvimento de competências e habilidades?
Em primeiro lugar, o retorno da Filoso-
fia ao Ensino Médio deve ser entendido como
o reconhecimento da importância desta disciplina para ampliar o significado e os objetivos
sociais e culturais da Educação. Para tanto,
é imprescindível a presença, nos programas escolares, de disciplinas que – como a
Filosofia – propõem reflexões que permitem
compreender melhor as relações históricosociais e, ao mesmo tempo, inserir o educando no universo subjetivo das representações
simbólicas, elevando a Educação a um nível político-existencial, capaz de superar a mera transmissão e aquisição de conteúdos, feitas de modo mecânico e inconsciente. Quem pode discordar, por exemplo, de que já está mais do que na hora de levar os debates sobre ética para fora das aulas e seminários especializados, escondidos nas
universidades e produzidos para meia dúzia de especialistas de fala incompreensível?
Do mesmo modo, por maior que seja a capacidade que os meios de comunicação têm
de influenciar a opinião pública, exercitando     
positivamente seu direito de denúncia social,
nenhum educador imagina transferir à mídia
a responsabilidade pelo estabelecimento de
valores éticos para formação de crianças e
adolescentes.
A questão se torna ainda mais difí-
cil quando se atribui à escola a função de
formar cidadãos capazes de interferir, de maneira consciente, no contexto social de que
fazem parte. A condição de cidadania não se
materializa com o uso de símbolos exteriores, aplicados após a memorização de umas
poucas sentenças compreendidas, como se fosse um crachá de identificação que diferenciasse seu portador
das demais pessoas que compõem a sociedade. Além disso, é importante lembrar que, para a aquisição dos valores da cidadania, são decisivas as influências que o aluno armazena dos ambientes sociais que frequenta, em
especial a família. É claro que o professor de Filosofia, assim como os demais, deve participar ativamente do processo de percepção e formação desses valores, mas isso não significa que ele deva abdicar das funções de docência, deixando de produzir conhecimento sobre sua disciplina. Essa produção de conhecimento pode
ser fortemente dinamizada, se o professor de
Filosofia promover o debate interdisciplinar.              
Assim, por exemplo, de um lado discussões  
escolares sobre violência urbana ou racismo
poderiam ser melhor desenvolvidas pelos
professores de Sociologia ou História, a partir
de um diálogo com o professor de Filosofia.
De outro lado, a intermediação da Filosofia
poderia ampliar a compreensão de questões
como desmatamento ou engenharia gené-
tica, trabalhadas nas aulas de Geografia e
Biologia, e assim por diante. As combina-
ções são ilimitadas, permitindo um saudável
intercâmbio de idéias, com benefícios para
alunos e professores.
Entretanto, embora ainda sejam poucas as vozes questionadoras da importância do ensino da Filosofia, os profissionais da Educação, em geral, e os da Filosofia, em particular, manifestam preocupação quanto a algumas questões fundamentais: “Como
ensinar Filosofia?” ou: “Como formar professores para o ensino de Filosofia no ensino médio?”; “Será que os cursos superiores preparam, adequadamente, esses professores?”; “Qual a qualidade do material didático disponível?”; “Como despertar o interesse dos alunos e incentivá-los a pensar filosoficamente?”...
Como é do conhecimento de todos, nenhum desses problemas constitui duvidoso privilégio da Filosofia, podendo ser relacionados às demais disciplinas que compõem os programas de ensino no Brasil. Uma coisa parece, no entanto, certa: não irá muito longe o professor que encerrar um pensador numa espécie de caixa preta, tentando isolar seu pensamento, imaginando que a arquitetura do texto, por si só, poderá levar a qualquer forma de compreensão ou reflexão. Não podemos considerar a hipótese de que o educando terá uma boa formação apenas por conseguir compreender as estruturas do pensamento de um filósofo, isolado em um planeta imaginário onde tempo e história não coabitem. Isso porque o uso de ou o recurso a um  pensador, sem a preocupação de fazer pensar o seu leitor contemporâneo, é um exercício inútil. É como deixar de viver e evitar todos os riscos que a vida implica, para durar mais... Além disso – considerando que as manifestações do pensamento devem ser analisadas em sua historicidade –, a própria análise de um
texto filosófico precisa ser historicizada e posta em relação com outras disciplinas. Desse modo, como já foi lembrado, a Filosofia pode assumir uma de suas principais funções, a de ser uma ferramenta conceitual, produtora de síntese, com o que animaria o debate multidisciplinar, elevando os padrões do Ensino Médio.
Aqui, é importante considerar a trajetória percorrida pela Filosofia na história da educação brasileira. Os jovens que frequentam hoje os cursos superiores de Filosofia talvez não saibam que, durante décadas – desde sua aparição em nosso mundo escolar, há cerca de oitenta anos –, seus conteúdos, maltratados ora pelo discurso teológico, ora pela verborragia intraduzível que saía dos moinhos de palavras de alguns especialistas. Estes conteúdos mais pareciam raciocínios emanados de seres supremos, cujos códigos
de acesso poderiam ser decifrados graças à mecânica das palavras, dispensando maiores complicações de pensamento. Recentemente, entretanto, após a instalação dos cursos de pós-graduação (final da década de 1960 e início da seguinte), a Filosofia consolidou-se nos ambientes universitários, aumentando sua visibilidade pública, tanto pelos espaços culturais ocupados pelos profissionais da área como por sua presença nos embates políticos que levaram à superação do regime autoritário instalado no país. As vozes dos filósofos, além de serem ouvidas, puderam, enfim, ser entendidas e, junto com as falas de outros representantes do universo cultural e político brasileiro, mostravam-se mais preocupados com o restabelecimento da democracia no Brasil, do que com o sentido filosófico da cidadania clássica da Grécia antiga. Desde essa época, a solidão contemplativa a que se restringia o estereótipo do filósofo foi recolhida para o espaço da anedota e ele deixou a caverna para ganhar o espaço da Cidade.Essas considerações não devem ser entendidas como uma avaliação depreciativa da História da Filosofia, pois ela foi, é e será sempre fundamental para o estudo da Filosofia. Aqui, o que se considera é que, a despeito de sua importância, a História da Filosofia não deve constituir a principal orientação para o ensino da disciplina na escola pública, pois é com o olhar voltado para o mundo que se aprender a pensar filosoficamente – muitas vezes, recolhendo material nas ruas que o aluno percorre para chegar à escola. Um jornalista, por exemplo, realiza entrevistas com crianças que vivem no tráfico ou na prostituição e encerra aí o seu trabalho; mas certamente a compreensão da questão poderá ser mais bem sintetizada, a partir de seus fundamentos, pelo professor de Filosofia. 

terça-feira, 7 de junho de 2011

COMPETÊNCIAS E HABILIDADES DA FILOSOFIA

REPRESENTAÇÃO E COMUNICAÇÃO
Ler textos filosóficos de modo significativo.
• Ler, de modo filosófico, textos de diferentes estruturas e registros.
• Elaborar por escrito o que foi apropriado de modo reflexivo.
• Debater, tomando uma posição, defendendo-a argumentativamente e mudando de posição face a argumentos mais consistentes.

• Investigação e compreensão.
• Articular conhecimentos filosóficos e diferentes conteúdos e modos discursivos nas ciências Naturais e Humanas, nas Artes e em outras produções culturais.
• Contextualização sócio-cultural.
• Contextualizar conhecimentos filosóficos, tanto no plano de sua origem específica, quanto em outros planos: o pessoal-biográfico; o entorno sócio-político, histórico e cultural; o horizonte da sociedade científico-tecnológica.

Conteúdo de 1ª Série Apostilas - Volume 1 e 2

Na primeira apostila, na situação de aprendizagem 2, o texto trata do funcionamento do intelecto, enquanto que na primeira situação o assunto já havia sido abordado com enfoque no reconhecimento do mesmo. Nesta segunda situação o que se pretende é aperfeiçoamento do reconhecimento apresentando em sua operação de conhecer.
A captação dos sinais externos realizada pelo intelecto humano são comparados aos sinais captados  via satélite pelos instrumentos eletrônicos. Kant nos mostra como a filosofia é importante para entender o funcionamento da inteligência. Ele explica que, o conhecimento que temos pode ser posterior à experiência (a posteriori) ou anterior à experiência (a priori).
Na metafísica de Aristóteles a aplicação do verbo ser ( que é a característica de tudo o que existe), e a análise das quatro causas que diferem o ser, nos propicia mostrar ao aluno , de modo simples um pensamento profundo. No estudo dos princípios da lógica entendemos as categorias do seres:  o primeiro princípio da razão, que é o princípio da identidade, segundo o qual um ser é sempre idêntico a ele mesmo.
O segundo princípio da razão, o princípio da não contradição, os seres não podem “ser” e “não ser”, sob as mesmas condições.
O terceiro princípio é o princípio do terceiro excluído; uma vez que se afirmou alguma coisa sobre um ser, só podemos dizer se ele “é” aquilo que se afirmou ou se “não é “aquilo que se afirmou. Não há outra resposta. 
A apostila volume 2, na situação
de aprendizagem 1, aborda os conceitos de dedução e indução. Através da dedução os conceitos formulados pelas inferências se tornam válidos, pois, é uma formulação analítica. Parte do universal para o particular. Na ciência, a dedução parte se de um pensamento teórico e por ele age, ou por ele conhece outras dimensões do mundo. Por exemplo, a lei da gravitação universal de Newton diz que todos os corpos se atraem segundo uma força derivada de suas massas e sua distância. Desse modo, quando um objeto qualquer cai, na verdade, ele foi atraído pelo Planeta. É a massa do objeto sendo atraída pela massa do planeta Terra. De alguma forma, acreditamos que tudo cai, porque sabemos que há uma lei da gravidade e, a partir dela, podemos prever um acontecimento. Além disso,  ela é logicamente válida. Em geral as pessoas sem olhar crítico sobre a ciência pensam que ela é feita por indução (do particular para o universal ). A indução não parte das regras lógicas para se legitimar. Ela parte da experiência. A experiência pode parecer racional, mas não é, pois está envolvida com os sentidos, e não com o raciocínio.
Para Karl Popper, o valor de um conhecimento científico não vem da observação de experiências, mas da possibilidade de a teoria ser contrariada, ou melhor, falseada. Num primeiro momento, acreditava-se que a ciência comportaria todas as verdades, com base na criação de teorias e leis que surgiriam pela observação de experiências – esta é a crença de indutivistas. Com a ideia de que a teoria precede a experiência. Os falsificacionistas admitem que toda explicação científica é hipotética: no entanto, é o melhor que temos. Quanto mais uma teoria for falseada, melhor seria ela. No momento em que a teoria é falseada, o cientista tentará melhorá-la ou a abandonará.
Os conteúdos desenvolvidos propiciaram o desenvolvimento de diversas habilidades, tais como, selecionar, organizar, relacionar, e interpretar dados e informações, representados de diversas formas. O que se procura com esta proposta é incentivar as competências que possibilitem reconhecer manifestações ordenadas do pensamento e dos problemas da filosofia. Desenvolver uma imagem crítica da ciência.

domingo, 5 de junho de 2011

O mito do nascimento do amor

"Quando nasceu Afrodite, banqueteavam-se os deuses, e entre os demais se encontrava também o filho de Prudência, Poros, o esperto. Enquanto se banqueteavam, aproximou-se Penia, a Penúria, para mendigar as sobras da festa, e sentou-se à porta. Embriagado pelo néctar, pois o vinho ainda não existia, Poros se encaminhou para os jardins de Zeus e lá adormeceu, dominado pela embriaguez. Foi então que Penia, em sua miséria, desejou ter um filho de Poros. Deitou-se a seu lado e concebeu a Eros, o amor. Por esse motivo é que Eros tornou-se mais tarde companheiro e servidor de Afrodite, pois foi concebido no dia em que esta nasceu. Além disso, Eros, devido à sua natureza, ama o que é belo e, como sabemos, Afrodite é bela. E por ser filho de Poros e Penia, Eros tem o seguinte fado: é pobre, e muito longe está de ser delicado e belo, como todos vulgarmente pensam. Eros, na realidade, é rude, é sujo, anda descalço, não tem lar, dorme no chão duro, junto aos umbrais das portas, ou nas ruas, sem leito nem conforto. Segue nisso a natureza da mãe que vive na miséria.
Por influência da natureza que recebeu do pai, Eros dirige a atenção para tudo que é belo e gracioso: é bravo, audaz, constante e grande caçador: está sempre a deliberar e urdir maquinações, a desejar e a adquirir conhecimentos, filosofa durante toda sua vida; é grande feiticeiro, mago e sofista.
Não vive, propriamente, nem como imortal nem como mortal. No mesmo dia, ora floresce e vive, ora morre e renasce, se tem sorte, graças aos dons recebidos pela herança paterna. Rapidamente passam pelas suas mãos os proveitos que lhe trazem a sua esperteza. Assim, nunca se encontra em completo estado de miséria, nem, tampouco, na opulência.
Oscila, igualmente, entre a sabedoria e a tolice: devido ao seguinte motivo: nenhum dos deuses, como é claro, exerce a filosofia, ou deseja ser sábio, pois que como deus já o é; quem é sábio não filosofa; não filosofa nem deseja ser sábio, também, quem é tolo, e aí reside o maior defeito da tolice: em considerar-se como alguma coisa de perfeito, conquanto, na realidade, não seja nem justa nem inteligente. E quem não se considera incompleto e insuficiente, não deseja aquilo cuja falta não pode notar."
Platão, Banquete, 203b

O que é Filosofia?


     AMAR O SABER  - O FILÓSOFO SE ENCONTRA ENTRE DOIS EXTREMOS: A IGNORÂNCIA E A SABEDORIA
    O sábio não é aquele que detém o saber, mas o amigo do saber, aquele que ama o saber e, por isso, busca-o. A sabedoria seria privilégio dos deuses; aos homens, cabe buscá-la, sem pretender tê-la alcançado de todo. A etimologia da palavra filosofia remete a uma atividade, não a um conteúdo.Entre as características principais do diálogo filosófico que destacaremos, estão a construção de conceitos, a argumentação e a problematização.Com Platão e Sócrates, a filosofia se estabelece como essencialmente dialógica, valorizando a construção do saber interlocutor e pelo próprio filósofo. Estudar filosofia é também estudar problemas filosóficos. Aprender a articular, conceitualmente, os pensamentos, articular as ideias de forma rigorosa e buscar os fundamentos e a completude das explicações, das compreensões. Fazer filosofia é pensar, é questionar formulando sua própria compreensão, o que, em alguma medida, todos o fazem. Todas as pessoas formulam alguma compreensão do mundo. A visão filosófica de cada um vai se formando em seu próprio itinerário, e é por isso que o processo está sempre em aberto, o que é próprio da busca filosófica. A filosofia tem o dom de fazer amizades e não é uma "andorinha"solitária.










DIREITOS HUMANOS

Os direitos humanos são em sua essência, direitos que temos pelo simples fato de existir. Durante a história da humanidade esses direitos ...