Reflexão sobre o racismo
A condição do negro está ligada ao racismo e à miséria.
Considerando a população brasileira em geral, pode-se afirmar que raros são os
casos nos quais os negros superam condição de pobreza ou mesmo de miséria e
recebem notoriedade social.
A miséria causada pelo racismo e pelas políticas de Estado
pós-libertação dos escravos e a despreocupação das autoridades geraram um
contingente de excluídos ou marginalizados, que são reconhecidos pela mesma cor
de pele, cabelo, lábios e cultura de raízes africanas - os negros.
A falta do mínimo necessário para a vida gerou e gera duas
orientações: a revolta e a acomodação. A revolta pode ser política, isto é,
negros e negras se encontram para discutir o que lhes faz sofrer e cobrar das
autoridades a igualdade. A acomodação pode ser entendida como uma alienação.
Muitos negros e negras simplesmente aceitam o papel que as elites lhes
impuseram durante séculos - a de que eram trabalhadores braçais em situação
precária. Por outro lado, a alienação pode gerar a vitimização: o indivíduo se
vê sempre perseguido e incapaz de agir, o que resulta em baixa autoestima. Em
consequência, os negros valorizam outras culturas, como a da hegemonia branca
europeia.
Para Sartre, o negro precisa encontrar a sua “negritude”,
que é a maneira dialética, ou a negação da injustiça, causada pelo capitalismo.
A condição negra de miséria, de humilhação e exclusão social, foi gerada pelo
capitalismo, em processos de escravização de um povo sobre outro povo. Do ponto
de vista cultural, diferentemente do proletário europeu, formado pelas
fábricas, o negro teve um espaço para desenvolver sua cultura, que só podia ser
uma cultura de resistência. Cada vez que um negro coloca uma roupa que expressa
sua identidade, compõe uma música que fala de sua vida, não tenta moldar o seu
corpo para ser igual aos outros, ele produz a “negritude”, a resistência
cultural dentro do capitalismo racial e cristão. A negação do ato colonizador.
O capitalismo colocou o burguês e o trabalhador em oposição
por meio de uma situação de exploração. Mas o capitalismo também colocou o branco
europeu em oposição ao negro escravo e ao negro pós libertação, o que também
resultou em formas de exploração. O capitalista oprime o trabalhador enquanto,
em certa medida, o trabalhador branco oprime o negro. Por isso, o negro deve
assumir a consciência de que sua raça é explorada por uma questão social de
dominação do homem branco e não por sua natureza biológica.
Em Sartre, há uma diferença entre o trabalhador branco e o
trabalhador negro. pois apesar de ambos sofrerem as dificuldades da pobreza, ele
encontra a discriminação junto àqueles que também são pobres e oprimidos, e até
os trabalhadores brancos discriminam o trabalhador negro.
O que é preciso fazer? É preciso que cada um tome
consciência de sua condição; que o trabalhador tome consciência de sua
exploração e perceba que os problemas advêm de sua posição no mundo
capitalista; que o negro identifique sua condição de submetido pelo racismo.
Sob a inspiração de Sartre, pode-se pensar que a consciência de que é submetido
ao racismo deve favorecer ao entendimento por parte dos negros de que é preciso
assumir-se como negro, sem negar origens africanas e história cultural, mas
negando a condição de exclusão e inferioridade de que foram vítimas. Assim, o
negro deve orgulhar-se de sua negritude, atribuindo significados positivos ao
fato de ser negro.
Sartre inspira um pensamento de valorização do negro. Um
olhar negro sobre o mundo. Uma compreensão de que o negro não pode ser
conjugado como o mal.
A nossa cultura associa as palavras negro, negra e preto ou
preta a ideias pejorativas. Por exemplo, o que significa as expressões”mercado
negro”, “ “o lado negro”, “ magia negra”, “a coisa está preta”?
A ideia de negritude entendida como valorização do negro e
crítica à visão negativa do mesmo impõe outra opção à ordem da cultura
excludente. Sendo chamados de negros ou afrodescendentes, essas pessoas se
encontraram pela negritude, que significa valorização do negro, da história dos
povos africanos, da cultura negra e de uma nova visão sobre os negros, bem como
sobre a importância de superação da exclusão social a que foram submetidos. A
negritude seria o desenvolvimento da cultura negra após a colonização, assim,
nela, estaria uma inversão em oposição ao sistema eurocêntrico capitalista e
branco. A negritude revela o racismo.
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Fontes: (SÃO PAULO-SEE, Caderno do professor: filosofia, EM,
2ª S., V.3, pp.18-19)
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